Starchaser

★★★★(< 5)

Ele estava deixando a Terra para sempre, mas sua alma estaria ligada à dela através do espaço infinito.…

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Foi uma festa de despedida. Havia palavras a serem ditas, coisas a serem feitas. Algumas coisas a serem desfeitas, se possível. No dia seguinte, eles teriam ido embora, e só Deus, se existisse, sabia quando, ou mesmo se, eles retornariam. O capitão Marco Kensington acordou devagar.

Muito devagar. O computador monitorando seus sinais vitais foi cuidadoso. Quantidades precisas de estimulantes estavam sendo alimentadas nele em intervalos calculados.

Ele levantou-se do nada da animação suspensa para uma névoa de realidade pouco concebível. Eles o alertaram sobre a sensação de deslocamento. Ele tinha experimentado isso antes nos julgamentos, mas esses foram dias, às vezes semanas no estado que eles chamavam de sono profundo.

Desta vez, onze anos teriam passado. Se nada tivesse dado errado. Se o casco não tivesse sido rompido, se a radiação não tivesse danificado o computador, apesar da proteção espessa, se ninguém na ESA tivesse feito as contas e as tivesse eliminado. Marco acordaria, sairia de seu caixão frio, se exercitaria, comeria e seria testado pelo computador para garantir que ele mantivesse a função cognitiva, e então ele iria para o módulo de comando.

Ele iria abrir as persianas. Ele olharia para um novo mundo e um novo sol. Talvez. Ele não estava mais confiante. Eles disseram que ele não sonharia, mas as lembranças puxaram-no.

Eventos que não poderiam ter acontecido. Qual foi real? Fazer amor com a esposa de seu melhor amigo na véspera da partida ou a fantasia de que ele era um astronauta, o comandante da primeira missão interestelar? Talvez os dois. O hipersleep era real, ele tinha quase certeza disso. O resto, entretanto… talvez ele estivesse alucinando.

Talvez ele fosse psicótico. Isso aconteceu antes. Esmeralda Ela tinha um nome lindo.

Uma linda alma. Seus dedos formigaram com a lembrança de tocar seu rosto. Pele macia nas bochechas, a leve cicatriz de uma cicatriz na testa, lábios flexíveis, calor do pescoço. "Eu não deveria ter dito nada", ele disse a ela.

"Não, você não deveria", ela concordou. Mas ele tinha. Como ele não pôde? Onze anos se passariam antes que ele acordasse novamente.

Ela estaria com quarenta e tantos anos. Os fios prateados quase imperceptíveis do cabelo dela teriam se multiplicado. Pele macia estaria mostrando sinais de rugas. Seus olhos ainda brilham como as estrelas, no entanto.

Sua risada ainda levantaria sua alma. Seus lábios ainda tinham gosto de ambrosia. O beijo foi inesperado. Uma investida repentina, as mãos dela puxando a camisa dele, subindo na ponta dos pés para combinar com a altura dele, seus lábios batendo contra os dele.

O cheiro dela enchia suas narinas, insinuações de sândalo e spray de cabelo e os cigarros mentolados que seu marido fumava. Ela se afastou, os olhos brilhando, as narinas dilatadas, observando-o com medo. Com medo do fogo que ela acendeu.

Querendo que as cinzas fossem queimadas. Teria sido real? Ou fantasia? Sua imaginação poderia criar o gosto dela? O sabor salgado do suor em seu peito, o pó perfumado em seus mamilos, o cheiro almiscarado entre suas pernas… aqueles tinham que ser reais. Através das névoas do despertar, ele podia ver como se tivesse sido um observador fora de seu próprio corpo. Ela se sentou na mesa do escritório que haviam invadido para ter privacidade.

Seu vestido estava amarrotado e empurrado para cima em torno de sua cintura. Nylons negros, transparentes o suficiente para mostrar o quão pálida a pele dela estava, até o meio da coxa. O suficiente para ele colocar a cabeça entre a meia-calça e a virilha. As mãos dela no cabelo dele, torcendo, puxando, evidenciando a necessidade dela para a língua dele nas nethers dela.

A batida de seus saltos em suas omoplatas. O suave gemido de sua voz no ar. Seu clímax, tão poderoso, enchendo sua boca com fluidos grossos que jorraram de dentro dela. Coxas apertando sua cabeça, fechando seus ouvidos aos sons do mundo ao redor deles.

Ele ainda podia ver o fogo em seus olhos quando se levantou entre as pernas dela. A descrença em seu rosto misturava-se com o desejo devasso. Ele entendeu naquele momento o quanto eles haviam perdido. Como eles haviam se esbanjado em outras pessoas.

Ele achava que sua timidez significava que ela não estava interessada, e que ela achava que a indiferença dele era menos autodefesa do que a falta de atratividade. Seu nariz, ela disse, era grande demais para seu rosto, mas ele sempre achou que era uma peça central de sua beleza única. Sua pele tão pálida que até mesmo a luz do sol a deixaria vermelha. Ele com sua falta de jeito, mais em casa com a tecnologia do que ele estava com outras pessoas.

Oh! Como ela o inspirou a ser melhor! Socializar, empatizar, entender e crescer no líder requerido dele. O suficiente para estar no comando do Starchaser. Capitão de um navio que navegaria pelos mares vagos entre os sóis.

Quando tudo o que ele queria era aproveitar o brilho de seu olhar. Seu sorriso era o único elogio que realmente importava. Entrando em seu corpo tinha sido a maior honra. Sentindo seu aperto ao redor dele, o calor dela, a realidade de seu corpo macio. Isso foi realidade.

Isso não poderia ser. Esta caixa fria e estéril em que ele estava. O ar filtrado, o cheiro de plástico, a ausência de gravidade. Nada para segurá-lo, e tudo para puxá-lo de volta através dos anos-luz, de volta ao seu abraço. A sensação extraordinária de seu corpo, suas profundidades úmidas, olhando para seu rosto enquanto ela atingia o orgasmo, quando o orgasmo os unia.

Como ele encheu seu corpo com sua semente. Ar soprou em seu rosto. A porta que o selava estava se abrindo.

Ele cheirava a patchouli e sândalo. Ele provou a amargura de suas lágrimas. O sabor persistente de seus sucos.

Ele sentiu o calor suave de seus beijos formigando seus lábios. Estava escapando. Ele agarrou-se a isso, mas desapareceu. Ele estava acordado.

Marco sentou-se devagar, o movimento fazendo-o flutuar um pouco para fora da cama abaixo dele antes que as restrições o pegassem e o segurassem rapidamente. Um pequeno toque soltou os ganchos. Ele se libertou da cápsula do sono profundo. Ao longo das paredes do módulo, o resto da tripulação estava sendo despertado.

Mas ele foi o primeiro. Só ele tinha essa honra. O gosto das cinzas pesou sua língua. Ele seguiu a rotina cuidadosamente planejada projetada para trazer seu corpo de volta à capacidade total. Nutrientes foram para o estômago dele, ele respondeu as perguntas que o computador posou.

Quando as pálpebras das outras cápsulas começaram a abrir, o capitão Kensington saiu do módulo. A lembrança o deixara com tesão. E amargo.

E triste. Ele tocou no controle de acesso ao lado da porta que levava ao módulo de comando. A porta se abriu. Um momento depois, outro toque fez com que as espessas persianas de proteção se afastassem da única janela de visão do navio.

A luz do sol o banhava. Um pouco azul demais para estar em casa. E lá, a sombra de um planeta ainda distante.

Um novo mundo. Ele não tinha certeza de quanto tempo ele flutuou lá, olhando através do porto. Sua mente vagou. Isso foi real? As paredes de metal pareciam reais. As almofadas da cadeira de comando pareciam reais.

A luz em sua pele era real o suficiente. Então, por que ele ainda a saboreava? Por que ele continuou a cheirá-la? Ar flutuou em seu rosto pela ventilação. Ele cheirava sândalo.

Um remanescente persistente, uma memória errante, algo que ele estava relutante em liberar no esquecimento. Houve um toque em seu ombro. "Marco", disse ela. Eles o avisaram sobre isso.

Períodos prolongados no hypersleep podem afetar a memória. Certos eventos podem se tornar nebulosos, outros trazidos a uma definição precisa. Ele havia esquecido alguma coisa. Sabendo que ele havia esquecido, reviveu a memória. "O tenente Sanders desenvolveu telhas", disse-lhe o especialista em controle de missão, entregando-lhe o aviso de revisão de última hora do manifesto da tripulação.

Tenente Sanders, homem, vinte e seis anos, quase insubstituível. Marco girou para encará-la. Ele sabia quem seria.

A lembrança daquela última noite na Terra, o momento de paixão com ela, flutuou das profundezas de seu longo sono para lembrá-lo. Nada havia sido perdido. "Esmeralda", disse ele, estendendo a mão para tocar sua bochecha. Para atraí-la para ele.

Era contra as regras, e talvez fosse imprudente. Ele era o comandante, ela era a geóloga substituta, sem classificação, sacrificando-se tanto pela missão. Para ele.

Eles se beijaram, e o calor de um sol alienígena se juntou ao calor de duas almas perdidas colidindo, juntando-se, finalmente em paz.

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